A INDAGAÇÃO COM INSTRUMENTO DE DESVELANENTO
A mudez aparente das coisas é apenas a espera
educada por nossas perguntas.[1]
(José Antonio Marina)
Segundo o filósofo espanhol
José Ortega y Gasset (09.05.1883 -
18.10.1955), antes de a prática
filosófica assumir o termo filosofia como palavra definidora, chamava-se alethéia -, ou seja, desvelamento -.
Isso indica que a prática filosófica é, entre outras definições, um ato de
desvelar, revelar o que está oculto. Sócrates, o inspirador filósofo grego (
469- 399 a.C), para auxiliar os circunstantes de sua época a encontrar a
verdade, se valia da maiêutica, uma série de perguntas
direcionadas a determinados interlocutores, aprofundadas a partir de suas
respostas. Essas perguntas, levavam o sujeito interrogado a pensar e repensar
sobre suas convicções, levando-os, muitas vezes, a adoção de novas ideias. A
palavra maiêutica, origina-se do grego maieutike - o mesmo que: arte de partejar -, indicando que
as perguntas direcionadas por Sócrates, tinham o fim de auxiliar o sujeito, por
ele interrogado, a dar a luz a ideias gestadas em sua mente, e que, sem esse
auxílio, teria dificuldade de expô-las, ou mesmo de encontrá-las.
A
prática indagativa auxilia-nos ao encontro de realidades ocultas pelas cortinas
do labor, dos costumes, dogmas e tradições. Essas cortinas omitem profundas ideias,
fazendo com que muitos entendam que a realidade possível é, exatamente, o que
está disposto ao seu entendimento, a partir de sua imediata apreensão. O ato de
indagar, pode levar uma pessoa a romper com o que está estabelecido como
verdade absoluta, a perceber que a totalidade do real não se esgota nas
afirmações comumente pronunciadas pelo senso comum.
Jostein
Gaarder (8 de agosto de 1952), escritor e filósofo norueguês, na voz de um de
seus personagens, na ficção filosófica "O mundo de Sophia", compara
os adultos a pessoas que nasceram em um coelho. Esses viventes, quando
crianças, se estabelecem na ponta dos pelos do coelho, podendo ver o que se
estabelece fora daquela macia pelugem. Porém, quando se tornam adultos, descem;
tornam-se acomodados e não mais exploram, subindo nos pelos até as pontas, a
realidade fora do dorso do coelho. Semelhantemente, os viventes humanos, quando
crianças, exploram o mundo e os mundos possíveis com suas constantes
indagações: o que é isso? Pra que serve?
É bom? Por que é bom?, etc. Geralmente, quando adultos, abandonam as
perguntas, acomodando-se a realidade dada, exposta ou convencionada. Se
voltarem a intensamente perguntar sobre as coisas, suas possibilidades, sobre o
certo ou errado, e o porque de tais assentimentos, sobre realidades pensadas,
porém, não concretamente percebidas, certamente se depararão com novas e
interessantes realidades, veladas pelo véu de nossa ignorância, ou pelas, já
destacadas, cortinas: do labor, dos costumes, dogmas e
tradições. Como afirma Miguel Reale
"conhecer é conhecer algo de algo"[2],
portanto, com o fim de aprofundar o nosso conhecimento, devemos perguntar sobre
tudo o que se nos apresenta, para levar as coisas a se despir, revelando o que
delas ainda está oculto.
Lailson
Castanha