sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Quantos amigos você têm?


Ofereço esta reflexão ao meu companheiro de ideias, Maiko Leandro, que, com sua leveza, tem me incitado  a olhar a vida em outras perspectivas, não somente na perspectiva da crítica rígida e inflexível.

Quantos amigos você têm?

Dialogando com alguém muito especial, meu companheiro de ideias Maiko Leandro, fui surpreendido com a seguinte pergunta: Quantos amigos você têm? - Achei tão edificante esta indagação, que desejei que outras pessoas se sentissem provocadas pela mesma questão.

De início a resposta parece-nos óbvia. Porém, ponderando um pouco mais, perceberemos que a questão não é tão simplória.

Ter amigos nunca se estabelece como um processo acabado. Há amigos que estão surgindo e os que estão se afastando. Há amizades que estão a se nutrir pela intensidade das relações, e outras se enfraquecendo por conta do distanciamento. Há amizades já reconhecidas pelo selo do tempo, e outras ainda não reconhecidas, estando ainda em processo de maturação.

Há aproximações pessoais fincadas na base do interesse, que por nossa ignorância, celebramos como uma efetiva amizade, e outras, ainda não reconhecidas, se firmando a partir do prazer descompromissado, através de algumas afinidades, com grande possibilidade de se tornar uma relação, além de prazerosa, compromissada.

Há amizades em potência, ainda não concreta, podendo ou prestes a se tornar ato, ou seja, podendo ou prestes a se concretizar. E outras, que sua concretude está a se desgastar pela falta de flexibilidade, talvez de uma das partes ou de ambas.

Diante destas perspectivas, devemos aprender a observar. Sabendo que essa prática não nos traz revelações imediatas, porém, faz-nos alcançar algumas constatações, nos dando a possibilidade de cuidar de algumas amizades, de nos cuidar nas amizades, de cuidar do amigo, de acolher aquele que já nos acolhe ou que nos acolherá. De chorar e celebrar com aquele capaz de lamentar nossos desacertos, que procura nos reerguer, capaz, também, de celebrar nossas vitórias. Devemos aprender a observar, não apenas para praticarmos o frio julgamento decisório, mas ainda, para celebrar essa riqueza chamada amizade e nos alegrar com o privilégio de contar com amigos ou com um amigo.
 
Laison Castanha.
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Foto: foto manipulada: Maikon e Fernada e o confuso colorido das amizades. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Recolhimento, como busca de compreensão e posicionamento.

Recolhimento, como busca de compreensão e posicionamento.

Às vezes, simples problemas exigem de nós muita força para suportá-los. Há momentos em que a simples ideia de não se ter atividades importantes para realizar, vem a nós com o peso de um fardo, ao passo de que, para outros, algumas simples tarefas são significadas como um fardo. Muitas vezes, sentimos o vazio existencial como um peso desconfortável, ao passo que o peso de algumas responsabilidades fazem-nos sentir vazios, com a sensação de que estamos apenas cumprindo a tarefa diária de cada dia e deixando de vivenciar “coisas” mais edificantes e prazerosas.

Os fatos da existência humana, diferentemente dos fatos físicos, nem sempre podem ser explicados ou resolvidos com a simplicidade de apontamentos exatos. Não é possível resolvê-los simplesmente a partir de comparações com experiências alheias ou nos apontamentos de “entendidos no assunto”. A comunicação é importante, porém, o recolhimento na busca da compreensão de si mesmo, certamente é o melhor caminho. Os maiores encontros de homens com Deus e com sua missão se deram no recolhimento pessoal, no difícil isolamento em busca de respostas, de escolhas e da procura por um sentido mais profundo da vida. Sem esse recolhimento, nossa existência continuará sendo construída em bases irregulares e frágeis, e por consequência, nossos atos, escolhas e relações não produzirão em nós, a paz que necessitamos.

Lailson Castanha

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Gravura: O Contador Antropomórfico – 1936, de Salvador Dali.

sábado, 29 de setembro de 2012

Da desconstrução, para a edificação de entulhos.

Aquele que só desconstrói, está a edificar entulhos. Aquele que só nega, está a afirmar negações.

Sobre posturas intelectuais, não há mais de duas escolhas possíveis. Ou se constrói desenvolvendo ideias e práticas, ou se desconstrói, desfazendo ideias e tradições, visando estabelecer nova edificação. Toda ideia, por mais que seja uma negação, pressupõe outra ideia. Toda negação de práticas, aponta para outras práticas. Negar é também posicionar-se. Portanto, o negador ideológico, que se gaba por desconstruir, não percebe, ou omite - que sua desconstrução de valores, ideias ou práticas, engendra outros valores, ideias ou práticas; omite que sua desconstrução é intencional, e sendo assim, sempre aponta para outro modelo.
 
Lailson Castanha

sábado, 7 de julho de 2012

A CONQUISTA DO SUBLIME.

A CONQUISTA DO SUBLIME.
(Homenagem ao poeta Laerço dos Santos - meu amado Pai.).

O Eclesiastes já dizia sobre a fragilidade da vida.
Na vida e por ela lutamos, corremos e nos cansamos.
Por vezes nos apegamos ao que de nela é efêmero.
Pouco esforço fazemos para enxergar o sublime.

Sendo filho de poeta,
do poeta Laerço dos Santos - que fez suas poesias de palavras e vida,
eu sem intimidade com os versos,
Imitando-o busquei poetizar, por vezes versando e rimando;
dignamente vivendo,
orando e louvando - àquele que é Digno de honras e louvor receber.

Em mim e nos meus, há hoje choro, um misto de tristeza e saudade, mas,
a paz, a paz que excede a todo o entendimento não está ausente.
É tão presente - como presente foi à fé vivenciada pelo meu pai.

Hoje enxergo o sublime, mesmo na dor percebo o sublime.
O meu poeta partiu, partiu para o Senhor que lhe deu
as possibilidades de ele transformar palavras e gestos - em poesia.
O poeta vocacionado, com a graça, a maior conquista possível,
A graça alcançada pela doação de Cristo Jesus na Cruz
honrou seu Senhor inspirador - semeando a boa semente.

Tudo o aqui tem raiz é efêmero, como aprendemos com o Eclesiastes tudo é vaidade, tudo é passageiro, porém, o que vem do Eterno, permanece. A obra fundamentada em Cristo – é aprovada no fogo e não fenece – é sublime.

Pela fé, entendo que o meu pai poeta pôde com o apóstolo Paulo afirmar:

"Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo.
Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.
Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda." (2 Tm 4:6 -8)

Laerço dos Santos
Nasceu na cidade de Coruripe (AL) no dia 13.09.1944.
Cristão protestante exprime em seus versos a devoção pelo Deus trino dos cristãos, e pelos valores por ele apregoados, e também, o prazer pela sua terra natal, família, amigos e valores fundamentais para a constituição da pessoa humana.
Descançou da lutas humanas, no dia 12.06.2012, na sua querida e poetizada Maceió (AL).

Em 2011, publicou o livro Poesia do Coração.
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Foto: Laerço dos Santos

segunda-feira, 11 de junho de 2012

ECOLOGIA

ECOLOGIA
Sidney Wanderley

Comovo-me bestamente nesta campina
com o mugido de um boi que ignora
pastar para ser matéria de meu pasto.

Há cem anos era aqui densa mata,
e um outro humano se comovia
com o canto de pássaros sem conta
luzindo na sombra das copas.

Outros cem anos decorrerão
até que em deserto se converta
esta campina. Pouco importa.
Alguém, então, celebrará
a seiva e a beleza
que há nos danos e nas dunas
e nas perdas e nas pedras
e nas ruínas.

Sidney Wanderley.
Poeta alagoano; nasceu no município de Viçosa em outubro de 1951. Revisor. Professor de Biologia.
Publicou vários livros, entre eles:
Poemas post-húmus (1991); Nesta calçada (1995);Quisera ter a beleza que (1997); De Riacho do Meio a Viçosa de Alagoas (1998); Na Pele do Lago (1999); Desde Sempre (2000); Três Vozes Nordestinas (2001); Entropia (2004); Chuva e não (2009); Dias de sim (2012).
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WANDERLEY, Sidney. Dias de sim. Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2012.
Conheça um pouco do pensamento e práticas do poeta, em entrevista concedida ao Jornal Gazeta de Alagoas:
http://gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas/noticia.php?c=196924
Foto: Sidney Wanderley

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Vivência personalista.

Vivência personalista.

Estar envolvido na vida de maneira pessoal é também se envolver em angústias – principalmente em angústias geradas pela necessária e pessoal tomada de decisão.
É muito mais fácil adotar pensamentos alheios que nos eximem da prática de uma escolha efetiva, do que, a partir do problema que se levanta tomar uma posição, seja ela ideativa ou prática.
É mais fácil ser rebanho do que ser pessoa, pois ser pessoa implica escolha pessoal, que por natureza implica vivência autêntica – que por base necessita do exercício do olhar reflexivo, da audição fechada à cacofonia de opiniões sobre as coisas que se apresentam – que podem nos levar a adoção de sistemas que não exigem de nós uma pessoal compreensão - além de não se configurar como autêntica e adequada resposta.
Diante da dúvida é mais fácil cinicamente negar tudo, do que suspender os juízos para aplicá-lo depois da enfadonha busca por respostas.
É mais fácil negar o que se não compreende do que buscar compreensão.
Fujamos das posturas e práticas impessoais. Fujamos da impessoalidade. Uma sociedade com qualidade é uma sociedade construída a partir da pessoal e inquietante busca de soluções e de respostas.

Lailson Castanha

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Foto manipulada: apresentando-se - imagem do poeta Laerço dos Santos.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Percepção da Beleza


Percepção da Beleza
Ouvir; ver; tocar; compartilhar; refletir; amar; sofrer; se alegrar; rir. E também se entristecer e chorar. Arrazoar... Cada ação produzida, cada sensação percebida, acrescenta em nós algo que talvez não percebamos.
Cada acréscimo produzido, por cada ação produzida, por cada sensação percebida e por cada reflexão arrazoada, pode produzir beleza - que pode ser percebida, admirada, ponderada e transmitida.
Não deixe de se apropriar de suas sensações, e de suas ideias. Não as desperdice.
Sobre tudo que te vem à tona, escreva; fotografe; fale. Ouça as mensagens de suas sensações, de suas ideias e dos lampejos de revelação. Se não as compreende, procure decifrá-las.
Há mensagens em tudo. Quase poderíamos acrescentar que há beleza em tudo. Se por agora não o asseveramos é por que o atual movimento da dor e da miséria no mundo, ainda não nos permite dizer que há beleza em tudo, porém, podemos afirmar que em quase tudo há beleza.
Mas ,enfaticamente, ainda podemos afirmar: Há beleza!
Há beleza no silêncio e no barulho. Depende da disposição em colhê-la. Tantos monastérios, tantos caminhos e lugares isolados, porém procurados. Mas também, tanto público para as barulhentas bandas Heavy Metal. Para diversificadas e agitadas baladas. Para a gritaria das igrejas pentecostais e os frenesis de terreiros.
Há beleza no feio – fotografe um fungo com um toque diferente, que você encontrará beleza. Fotografe um indivíduo, em que ninguém vê beleza, com um olhar que procura o belo, que você encontrará beleza. Tantas fotos lindas que retratam a aparente ausência de beleza.
Há beleza nos maus momentos – tantos leitores e espectadores para um drama. Desde a Grécia antiga a Tragédia, que fazia mover o coração dos homens era concorrida.
Há beleza nos sofrimentos – eles são matéria prima para poetas, romancistas, filósofos, músicos e místicos e outros espiritualistas. É Recitada em rimas, soprada em sonetos e refletida nas poesias modernistas e nas ponderações filosóficas. Tantos clássicos literários em torno à tragédia. A tragédia nordestina fez de Graciliano, de um simples alagoano, um escritor internacional. Tantos livros fazem da dor uma joia literária, que o digam os leitores de Tostoi e Dostoievski. Quantos blues executados, chorando a dor com as cordas de guitarra. Quantos chorosos bluesmens ovacionados.
Talvez, só não há beleza na morte, pois ela encerra possíveis colhedores de beleza que enxergam beleza onde não há(via).
Talvez..., porque em algumas mortes há a Beleza da germinação.

Lailson Castanha

Para as Belas pessoas que fazem parte da minha simples vida. Que talvez seja bela, por ser simples. E em sua simplicidade, não pretender a beleza da complexidade – que não enxerga.
- “Tomas. No que você está pensando?”
- “Estou pensando em como eu sou feliz.”

(A insustentável beleza do ser. O filme. Da obra de Milan Kundera)