Concretude do amor.
Uma das coisas que mais intriga o ser humano é o amor.
Falamos em amor. Por vezes, defendemos o amor e sua riqueza;
por vezes, questionamos sua existência, sua eficácia. Imaginando, damos formas
equívocas ao amor. Apontamos, também, contrapostos e antagonismos. Porém, sua
vivência encarnada - raramente encontramos.
Meu ser vivencia uma forte convicção: eu conheço o amor.
Vivi em um lar cristão, onde esse termo era constantemente
pronunciado; em minha casa, o amor tinha um nome: Deus -, Deus é amor. Porém,
por conta de minha falta de profundidade, de espiritualidade, essa premissa
soava, por demais, abstrata, ou, distante de minha limitada percepção.
Cresci em um lar onde ser filho significava: ser alvo de
atenção e preocupação de meus pais. Cada um de sua maneira, meus pais investiam
na vida de seus filhos, procurando fazê-los alcançar o caminho de o bom viver,
ou, das Bem Aventuranças. Meu pai, tentado fazer-nos acertar a caminhada, usava
as palavras, suaves ou duras, suas, do povo, ou bíblicas - ou, quando elas não
se mostravam eficazes, palmadas, puxões de orelha, chineladas, ou, como último
recurso, a temida cintada. Minha mãe, apesar de não se valer dos recursos de
meu pai não os invalidava, às vezes pedia mais moderação. Seu recurso era:
complementar a rigidez da correção, ou seja, os recursos de meu pai, que
intentava nos levar a um bom termo -, com gestos de afago e acolhimento: um
beijo muito carinhoso, fartura de agrados nos momentos de enfermidade, elogios
que alcançavam seus filhos, tanto em aspectos físicos como, morais.
Em meio a esse ambiente, onde diferentes gestos tencionavam
nos fazer felizes -, me sentia feliz. Via que meu pai, rígido na tentativa de
nos levar ao caminho do bom viver, tentava amenizar sua postura com esporádicas
brincadeiras, provando aos seus que aquela rigidez, não refletia os sentimentos
que nutria por seus filhos, sentimento que implicavam cuidado, carinho e
responsabilidade. Outrossim, presenciamos, a intensa doação de minha mãe em
favor de seu esposo e de seus filhos. Testemunhamos também, o distanciamento
físico de nossos pais: eles foram morar em Alagoas, terra de suas origens, e de
nossa também. Toda vez que íamos visita-los, ou quando eles vinham nos ver, a
alegria era completa: falas, risos, lembranças, afetos de ambas as partes – que
não permitia que nenhum membro da família ficasse de fora, deixando de se
nutrir da alegria da presença.
Enxergar o valor de meus pais, em nossas vidas, fez de minha
família, uma família saudosista. Temos o nosso passado como um tributo – um
presente de nossos pais. Por conta da riqueza percebida, não relegamos o
passado familiar aos porões da memória, a cada encontro familiar, nós, filhos
de Laerço dos Santos e Eliane Castanha de Oliveira Santos, nos alegramos com
nossa história.
Eu falava sobe amor... que meu ser vivencia uma forte
convicção: eu conheço o amor.
Meu ser vivencia essa forte convicção porque tenho recebido,
nesses últimos dias, o intenso carinho de minha mãe. Nesses dias de Julho de
2013 - conto com a riqueza da presença de minha mãe: tão maravilhosa e tão singela,
que nos faz lamentar sua ausência, mesmo antes de sua partida. Pela primeira
vez, veio nos ver sem a presença de seu tão amado “Véio” – como carinhosamente
chamava seu dedicado e amoroso esposo, nosso, também dedicado e amado, pai.
A presença de minha mãe, seu histórico de vida -, de
dedicação, renúncia, de afetos em prol de seu esposo e de seus filhos, me fez
relembrar a intensa sensação de ser “querido” por alguém. Minha mãe, que sempre
acreditou que “Deus é amor”, com sua vida, fez, e ainda me faz perceber a
existência desse atributo, que segundo as Escrituras – vem de Deus, pois toda
boa dádiva procede do pai das luzes. Se sua fé no amor de Deus, produziu nela a
vivência do amor, possibilitou aos filhos, o entendimento do amor de
Deus.
O apóstolo João, o discípulo amado, afirma: "Filhinhos,
não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade." (1 Jo
3:18)
Apesar de saber que há uma série de manifestações,
equivocadamente, apresentadas como gestos amorosos, como manifestações de amor,
minha mãe, com tudo o que com sua família construiu, com toda sua incondicional
doação em prol dos “seus”, me faz ter certeza que minha sensação de se sentir
querido, de fato, revelava, a ainda revela que sou amado, e, portanto conheço o
amor, pois amor nela se fez carne, como exorta o apóstolo João, ela ama e
sempre amou sua família de fato e de verdade.
Hoje, uma das coisas que menos me intriga é o amor, mesmo
sendo ele, uma das coisas que mais intriga o ser humano, pois, para mim, amor é
assunto resolvido. Continuo não o compreendo, pois não podemos alcançar sua
totalidade, porém, o sinto, com muita intensidade.
Com muito amor, agradeço a minha mãe, que, com sua presença,
sempre renova em mim boas recordações, atualizando a minha reflexão sobre o amor,
além de revitalizar a sensação de amar e ser amado.
Lailson Castanha
______
Foto: minha mãe Eliane Castanha, e minha irmã Liliane Castanha