A lição da mulher de Ló
A tradição hebraica ofereceu ao mundo,
através das Sagradas Escrituras, a riqueza de uma sabedoria pura, simples,
longe da pretensão de um conhecimento intelectual como nos moldes Ocidental,
ostentado em ambientes acadêmicos,em programas de TV e em alguns livros, revelando
em muitos portadores de tal conhecimento a adoção de certo pedantismo.
Podemos destacar, como exemplo de sabedoria pura,
porém rica, a narrativa da mulher de Ló, que com seu marido saia da cidade de
Sodoma, que, por sua imoralidade, seria destruída. Por olhar para trás,
transformou-se em estátua de sal.
Refletindo sobre essa narrativa, podemos extrair
uma rica lição, entre outras.
Como seres humanos, nos apegamos a pessoas e
a coisas que fazem parte de nosso repertório de
prazeres -, até mesmo aquelas que não nos fazem bem -. Sabemos que as coisas perecem, fenecem e que as pessoas – não só
perecem e fenecem, mas, por acréscimo, livremente se distanciam.
Geralmente, após um distanciamento de alguém
que amamos, fruto de sua livre escolha, tendemos ficar perplexos, não aceitando
o distanciamento proposto pela livre opção da pessoa que adotamos, que elegemos
como integrante de nosso repertório de prazeres. Essa não aceitação pasmada, leva-nos a
tentativa de compreensão, de entender o que ocorreu de errado, porque fomos
preteridos. Faz-nos olhar para trás, influi em nós uma rejeição ao porvir, pelo
fato de estarmos apegados ao que se foi ao que não é mais, ao que passou.
O apego ao que se foi e ao que ficou para
trás, e não se configura como um bem -, pessoas, geografias, ou objetos -, pode
ser prefigurado pela prática da mulher de Ló –, assemelha-se a prática de olhar
para trás, para a imoral cidade de Sodoma que tanto apego nutria aquela mulher que
avançava para outras bandas. Apegada ao que deixou, ao que perdeu, olhou para
trás, e imóvel ficou, transformada em estátua de sal. Semelhantemente, quando
apegados ao que se foi, que apesar de nosso apego, não nos fazia bem -, pessoa,
geografia, ou objeto -, por fatalidade ou por opção, imóveis ficamos,
enrijecidos ficamos, e por consequência, não avançamos para o novo, se não
olharmos para frente.
Com a milenar e simples tradição hebraica,
somos incitados a não permitir que nossos apegos e, até mesmo, nosso amor – fixe-nos
em -, pessoa, geografia, ou objeto não ideais -, que por fatalidade ou por
livre escolha apartaram-se, e como tal, devem ficar para trás, para o passado, superados
pela distância construída por nossos passos que avante seguem.
O ideal é que olhemos para frente, pois o que
não nos era saudável, e para trás ficou, deve ser superado pela procura ou pela
já presente abundância do novo.
Lailson Castanha
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Foto: A Mulher de Ló - Coluna de Sal Eilat, Israel.
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