REFLEXÕES
DA CAMINHADA
O abandono das velhas
práticas inadequadas, em favorecimento a novas práticas, visando uma vida
melhor.
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Em nossa existência somos marcados por poucas certezas inabaláveis; a morte é
uma dessas certezas. Além da inabalável convicção de que morreremos, podemos
destacar, como certeza indubitável, o fato de que ignoramos, salvo a convicção
da morte, o que nos ocorrerá no futuro. Porém, apesar dessa certeza
indubitável, é possível, racionalmente, postular o alcance de possibilidades
desejáveis, a partir da adoção de escolhas e práticas, criteriosamente
assumidas.
Pensando
sobre a vivência de as possibilidades desejáveis em nossa vida, naturalmente,
já estamos entrando em uma reflexão sobre a nossa felicidade, entramos no
questionamento de o que fazer para sermos felizes.
Assim
como o nosso Eu é uma construção existencial, a felicidade em nós, também.
Assim como toda boa edificação é pautada na escolha de critérios coerentes com
a finalidade da obra, ou do construtor, a edificação de nossa vida, que busca o
alcance e a permanência da felicidade, também deve passar pelo crivo dos
critérios coerentes.
Pensando,
criteriosamente sobre o nosso desejo de ser feliz, chegaremos a percepção de
que, algumas coisas que vivenciamos, algumas características e costumes que não
abrimos mão, alguns materiais usados em nossa construção -, não se fazem
interessantes para o fim que almejamos -. Devemos observar os materiais
comprados, e abandonar aqueles que não se adéquam à finalidade da construção.
Humanamente, devemos observar os erros que insistimos em cometer - , atitudes,
costumes e vícios -, que não colaborarão para a boa estrutura de nossa humana
casa, que visa se fazer, vida feliz, e aprender a superá-los, a abandoná-los.
Se,
em uma construção, foi constatado que alguns materiais, nela utilizados, são
inadequados para a estrutura que se visava construir, eles devem ser
substituídos por outros. Na construção humana, a lógica é a mesma. Se nossas
posturas, costumes e práticas, implicam em um inadequado modo de ser, se nos
levam a constante inauguração de momentos infelizes, se instauram a
infelicidade, na busca de uma vida melhor, o que se tem a fazer, é superá-los,
perseguindo outra forma de ser. Se nossas práticas costumeiras, se algumas
características pessoais, tem nos envolvidos, ainda mais, na angustiosa
infelicidade, há que buscar transformações, embora, sabe-se, que é uma
recorrente prática humana, se agarrar nos costumes, nas tendências, mesmo que
os tais tenham ligação direta com o infortúnio de nosso ser.
Ora,
se pessoalmente percebemos que nossas posturas, nossas escolhas, nossas
práticas, que se repetem, são inadequadas em nossa busca por felicidade, se
ficou constatado que esse repertório de práticas nos afastam ainda mais de
nosso anseio, pelo contrário, faz-nos engessados ao tipo de existência que
rejeitamos, que nos faz infelizes -, a opção mais coerente que se deve assumir,
ou ao menos, lutar para assumir -, é a adoção de escolhas, posturas e práticas
novas, diferentes daquelas que têm-nos petrificado no infortúnio da vida
infeliz.
Sabe-se
que luta por transformação pessoal distancia-se muito da ideia da fácil
mudança. Além disso, os costumes, as escolhas e as práticas, não são alvos de
fácil substituição, não são simplesmente arrancados, trocados por práticas
melhores -, pois, se tratando de vida humana, toda metáfora é inapropriada.
Apesar de nos valermos aqui de uma metáfora, somente em partes ela pode ser
usada, pois vida humana, de tão peculiar, com nada pode ser, em absoluto,
comparada.
Sabendo
que não se transforma vida humana, com a mesma praticidade, com que se reforma
uma casa. Toda busca por transformação pessoal, por mudanças, por se processar
angustiosamente, tem que ser feita com a reflexão, e com muita luta íntima,
como muito desejo, e com convicção de que a assunção de novas medidas, novas
escolhas, posturas e práticas, é fundamental para si, para o alcance de uma
vida feliz, ou, ao menos, sadia.
Se
nossas práticas, posturas e escolhas não nos levaram a uma existência feliz -,
a uma vida que nos faz reconhecer que nossos caminhos estão levando-nos a um
bom termo -, se faz ou não necessário, o abandono de nosso repertório de ações,
em favorecimento a adoção de um novo modelo de vida, a saber, de novas
escolhas, posturas e práticas?
Se
nossos erros recorrentes tem-se feito, nutrientes de nosso infortúnio, de nossa
infelicidade, qual deve ser a atitude mais coerente? Tentarmos extirpa-los,
enfraquecê-los, dando espaço a outras práticas mais coerentes com o nosso
desejo pela alcance da felicidade, ou, continuarmos dando espaço ou vazão as
práticas equivocadas, ao continuísmo das velhas obras? Se o que sempre fizemos
não nos leva a um fim desejado, é ou não é tempo de adotarmos outras estratégias,
outras escolhas, posturas e práticas - mesmo sabendo que não nos será fácil, e
mesmo sem a certeza que, de fato alcançaremos nosso propósito?
Lailson Castanha
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Foto: Parque Santo Dias, São Paulo. SP.