quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Por uma educação educadora.

Por uma educação educadora.

Quando falamos em educação, estamos a abordar uma das questões mais inquietantes da vivência social. Sobre a educação diversos apontamentos já foram apresentados. Na hodiernidade, filósofos, psicólogos, sociólogos e pedagogos, juntamente com pensadores das mais diversas épocas, apontam ideias que, postas em prática, acreditam, melhorariam a vivência do sistema educacional. É muito fácil deduzir que as várias propostas apresentadas com a finalidade de transformar o modelo da educação, existem como resposta a certa crise vivenciada pela educação em vigor.

O atual modelo de educação tem como escopo ser uma educação libertadora, tendo como fim último incitar no aluno uma vivência autônoma. Nesse ambiente educativo, ser autônomo é participar do círculo escolar sem a cobrança de professores ou demais integrantes de âmbito pedagógico, visando respostas positivas nas notas e no quadro comportamental em sala de aula e nos demais espaços da escola. Perseguindo esse ideal, as escolas públicas afrouxaram as cobranças ao aluno, dando-lhe mais liberdade de assumir suas volições. Também, procuraram apresentar os conteúdos das diversas disciplinas contextualizando-os com sua realidade, buscando com isso seu interesse e acolhimento aos saberes apresentados. Por exemplo, os saberes que versam sobre assuntos de ampla extensão, são tratados na escola de forma mais regionalizada, tirando-lhe a amplitude de que necessitam. Os professores, na abordagem de temas exigidos por suas respectivas disciplinas, evitam tratá-los com a profundidade, por vezes a frieza e subjetividade que necessitam preocupados em não engendrar no aluno o desinteresse pela disciplina que leciona. Com isso, a disciplina Arte, na sala de aula, ficou quase que reduzida a temas e abordagens de linguagem popular, como, e, por exemplo, a cultura pop, street e o hip hop. Na Língua Portuguesa, quando aborda literatura, suas temáticas ficam quase sempre restritas a obra de autores que correspondam ao interesse imediato do aluno, a saber, aqueles que fazem parte das listas dos possíveis temas de um vestibular de âmbito estadual ou federal. Na Matemática, os cálculos, como uma maneira de estimular o aluno a resolução de problemas, visando o exercício e amplitude de seu raciocínio, perde espaço para uma matemática apenas de ordem prática e usual. Na filosofia, as efetivas questões de ordem lógica, subjetivas e metafísicas, são substituídas por debates sem a devida preparação do aluno. Com a redução da extensão dos temas abordados pelos professores em suas respectivas disciplinas, o aluno desse modelo de educação, perde a amplitude dos temas abordados, ficando reduzido apenas a alguns aspectos dos assuntos trabalhados em sala de aula. Sendo São Paulo uma cidade vocacionada a cultura e a arte, entre outras, esse aluno, que nas aulas de arte ficou confinado a linguagem pop, street e do hip-hop, não vê sentido em visitar os espaços culturais que a cidade oferece, porque, a diminuição da extensão dos conteúdos nas aulas de Arte, como também, História, Filosofia e Sociologia, impediu que ele adquirisse uma linguagem que o proporcionasse interagir com as diversas manifestações artísticas vivenciadas em locais públicos que a cidade oferece. Se atendo apenas ao seu contexto cultural, por ênfase do próprio ambiente escolar, que se prendeu a preocupação de contextualizar temas, não foi possível ao aluno, compreender as diversas linguagens de âmbito universal oferecidas em espaços públicos. Um quadro de Goya, Picasso, Velásquez, Monet, Dali, por exemplo, não apraz aquele que só se habituou, quando se fala em artes plásticas, a observar o grafite ou a pichação. Como também uma obra literária que exige do leitor um vocabulário mais rico, dificilmente estimulará, no aluno que não foi cobrado a buscar uma linguagem mais extensa, a leitura completa da obra. Isso sem falar nos domínios de outras linguagens oferecidas no ambiente escolar.

Com a adoção dessas medidas, os defensores desse modelo pedagógico, acreditavam que, com a liberdade conquistada, o aluno teria mais interesse pela escola, por perceber que ela não era uma afronta a sua liberdade e que os temas ali tratados tinham uma relação direta com sua vida. Porém, com o passar do tempo, pôde-se perceber, que a resposta dos alunos não ocorreu como era esperado pelos teóricos da educação. Além de, cada vez mais confinado ao seu ambiente territorial, por não adquirir uma linguagem mais ampla que o possibilite e o estimule e expandir seu universo existencial, o aluno, apesar de frequente na escola, não participa efetivamente do ensino aprendizagem. Por não ser cobrado, acostumou-se a vivenciar, no ambiente escolar, apenas práticas que lhe apetecem, independentemente das consequências geradas por sua realização. Na sala de aula, comumente, vê-se alunos entretidos com seus aparelhos celulares, mp3, mp4, ou conversando com seus colegas, sem o mínimo interesse pelos conteúdos apresentados – mesmo contando com o esforço do professor em preparar uma aula em sintonia com suas vivências. É clarividente o desestímulo do aluno que não sente a necessidade de responder com certo rigor as exigências da educação e de um comportamento mais adequado no ambiente do ensino aprendizagem. Desestimulados, os alunos transformam a sala de aula, em um ambiente de vivência de suas volições, manifestações essas que nada tem de proximidade com o acolhimento do conhecimento, de cultura, ética e cidadania. Percebe-se que a proposta educativa que estamos a comentar, que visava transformar o ambiente de ensino aprendizagem em um espaço libertário e o aluno em um sujeito autônomo, pelo contrário, cada vez mais o aprisiona na prisão da falta de linguagem cultural e da mediocridade e o distancia de sua autonomia, apenas possível, através da aquisição do conhecimento que o transformaria em um sujeito crítico -, em um cidadão lúcido, e, por conseguinte, responsável.

A verdadeira educação deve ser uma educação educadora. Ela não pode e não deve se abster de incitar o educando experienciar práticas e posturas que lhe darão maiores qualidades para se apresentar diante das exigências de uma vida social, - uma ampla sociedade globalizada, da solidão das suas escolhas e de sua doação cidadã. Como educadora, por vezes, a educação deverá exigir respostas e posturas adequadas, não por mero capricho ou autoritarismo, como na escola tradicional do período ditatorial, mas, como preparadora e incentivadora do aluno ao alcance do conhecimento que ele necessitará para uma vida saudável, culturalmente rica e dinâmica. Sabe-se que o incentivo a vivência de novas práticas, posturas e aquisições de conhecimento, em sua maioria, inicia-se com a cobrança, sabendo, porém, que esse conjunto de valores adquiridos, não ficam presos ao círculo vicioso cobrança/resposta, podendo transformar-se em prazer, como, e, por exemplo, o hábito da leitura, que geralmente nasce de uma cobrança e em muitos casos se torna um agradável hábito.

Depois de visualizar os caminhos trilhados pela educação pública, que adotou o modelo aqui comentado, faz-se necessário elaborar um projeto com a finalidade de redefinir novos caminhos para o alcance de uma educação de qualidade, sabendo que todo ponto, ou projeto a se chegar tem sua direção lógica, e, é essa direção lógica e coerente para o alcance de um projeto viável e ao mesmo tempo vigoroso, que devemos perseguir e trilhar. Com isso, alguns parâmetros devem ser estabelecidos, pois, se não desejamos ver a educação navegar a esmo, sem direção definida, devemos nós, professores, através de um diálogo franco, eliminando sofismas e soluções fáceis, como frases e textos de autoajuda tão amplamente difundidos nas palestras pseudo pedagógicas, definir o caminho que ela trilhará, para que possa efetivamente, através de suas práticas, formar pessoas autônomas e preparadas para a vida - nos mais variados contextos possíveis.

Lailson Castanha.

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