sábado, 15 de outubro de 2011

Acordai

Acordai
(Jorge de Lima)

Acordai,
Acordai alta noite para ver os cavalos noturnos que vêm ga-
lopando não se sabe de onde, e vão quem sabe lá? Vão galo-
pando, vão galopando. Eles vêm das guerras, vêm da escra-
vidão, vem de antigos horizontes, vêm da escuridão. Vão numa
carga ansiosa, danados escouceando pela amplidão.
E vão, quem sabe lá? Vão galopando. Vão galopando.
Cavalos sem cavaleiros, livres de relhos, de esporas, de trombe-
tas, de selins, livres de senhores, vão relinchando dentro das
ventanias.
E vão, quem sabe lá? Vão galopando.
Cavalos revoltados, acordai os homens que dormem. Escouceai
os homens que dormem, relinchai sobre os homens que dormem.
Cavalos sem cavaleiros, sem trombetas e sem baionetas, ca-
valos noturnos que galopais, sem cavaleiros, sem estandartes, e sem
estátuas; que galopais sobres as fronteiras, entre as estrelas e as cordilheiras, entre as cordilheiras e as constelações, acordai os ho-
mens que dormem, acordai os homens que dormem.

Jorge de Lima.
Jorge Mateus de Lima nasceu em União, que viria a se tornar União dos Palmares, Alagoas, em 1893 e faleceu no Rio de Janeiro, em1953.
Poeta, romancista e ensaísta. Profundamente católico; boa parte de seus versos foram dedicados à temas religiosos. É considerado um dos grandes nomes do modernismo brasileiro.
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LIMA, Jorge de. Poesias completas volume IV. Rio de Janeiro: J. Aguilar, 1974.
Gravura: Jorge de Lima

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