segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

VIVENDO SEM MÁSCARA

VIVENDO SEM MÁSCARA

Há quem diga que viver é uma arte, talvez por isso é que muitas pessoas vivam representando como se o mundo fosse um enorme palco.

A humanidade vive em sociedade como se todos os dias fossem á um baile da fantasia. Quando nos preparamos para ir trabalhar, estudar ou fazer qualquer outra atividade social, levamos conosco uma máscara que usamos assim que colocamos nossos pés fora da privacidade do nosso lar.

Assim, completamente “montados” saímos para dar o nosso showzinho particular dividindo o palco da vida com centenas de outros atores, que igualmente, tentam desempenhar seu papel com a maior naturalidade possível. E claro, como todos trabalham nessa peça, temos que manter a sincronia de forma a nos sentirmos forçados a nos “adaptar” ao meio onde atuamos, digo, vivemos. Nos “adaptamos”, nos “acomodamos”, nos “ajustamos”, nos “harmonizamos”, ou seja, nos “conformamos”, afinal todos esses verbos são sinônimos. E se não conseguirmos pô-los em pratica, somos enxotados e outro é escolhido em nosso lugar. Essa é a realidade, quanto mais soubermos fingir, mais teremos sucesso para viver no meio social.

Quando chegamos em casa depois de um dia exaustivo de trabalho, despimos nossas roupas que usamos para labutar juntamente com nossa máscara, tomamos uma deliciosa ducha e de cara limpa colocamos aquela roupinha leve e casual e, então, nos encontramos com nosso verdadeiro “eu”.

Como seria bom se pudéssemos ser nós mesmos onde quer que fossemos! Se as pessoas parassem de mentir sobre si mesmas e se dessem a chance de aprender com os outros, enquanto que, os outros aprendessem consigo. Se as pessoas proferissem mais a frase “não sei” ao invés de usarem máscaras de intelectuais de quinta categoria (Sim, de quinta, porque a verdadeira sabedoria inclina o homem a aprender, pois ela mesma nos revela que ninguém nasce sabendo). Oxalá as pessoas chorassem quando estão tristes ao invés de esconderem suas mágoas sob a máscara da satisfação, quando sob ela está um olho inchado, e debaixo das indumentárias de personagem teatral existe um coração despedaçado. Por que usar máscara quando é tão melhor conhecermos as diferenças reais do que lidarmos com a falsidade conjunta? Quando é tão mais fácil ser nós mesmos a viver imitando comportamentos que muitas vezes nem louvamos?

Até na igreja existe máscaras. Os pastores se fantasiam de homens sérios, literalmente falando, trancam a carranca e procuram manter uma postura de autoridade, no entanto, é só vê-los em suas casas para descobrir que muitos deles sabem sorrir, alguns até gostam de brincar e podem relaxar em frente a uma tevê, de tal forma que alguns que lhe são subalternos pegam-se tentados a pensar:

“Meu pastor é bipolar, porque ele é tão diferente na igreja!”

Pasmem, mas eles também usam máscaras. A preferida da maioria é a da “santidade”, todavia, basta chegarem em casa para tirarem-na e relaxarem vestindo a “roupa leve” da humanidade, como se ambas as coisas não pudessem conviver perfeitamente. É que, como em sua casa todos o conhecem muito bem, seria mais difícil atuarem, e por isso, a igreja, que é figurada em toda a bíblia como uma família, não conhece realmente seus irmãos e muito menos seus pastores, além da máscara que eles usam. Graças a Deus alguns ministros do evangelho já acordaram para entender que santidade é a “separação do mundo” e não “no mundo” e com esse entendimento permitem-se serem conhecidos pelo rebanho, como pessoas comuns que foram resgatados para viverem em comunhão uns com os outros.

Sim, a vida é uma arte e o grande problema é que os homens tais como artistas estão aos poucos abrindo mão de sua autenticidade e vivem copiando as inspirações alheias. Que graça há em qualquer obra de arte se o artista se satisfaz a copiar ao invés de criar e acrescentar beleza ao que já existe? Exatamente assim é como vivem muitas pessoas que nos rodeiam: imitam os comportamentos ditados pela sociedade sem acrescentar-lhe nada e sem ao menos se darem a dignidade de julgá-los.

Penso que Deus fez o homem para acrescentar ao próximo, e não vejo como isso pode ser feito se o mundo não passa de uma grande copiadora, transformando cada ser humano em cópias xerocadas um do outro. Deus nos fez a cada um, seres únicos, dotando-nos individualmente de capacidades impares para que somadas aos de nosso próximo pudéssemos engrandecer o mundo. Não vejo lógica alguma em termos de viver como quem precisa decorar um texto para atuar em cada lugar que formos: devemos agir e até pensar segundo o nosso meio ou nos sentiremos isolados.

O ser humano é tão complexo que, embora tenha a tendência de querer ser o centro do universo e cada qual deseja que o outro emolde-se nele, pensando como ele pensa, agindo segundo o seu padrão de comportamento, abraçando ideias que não firam suas crenças, notamos que o homem é uma das criaturas, senão, a criatura mais hipócrita existente, uma vez que, embora queira ser a matriz de milhares de clones, ele mesmo se submete, em nome da mídia e do sistema sob o qual vive, a deixar-se transformar em simples cópia humana, vivendo sob a regência daquela e imitando as tendências que ela dita. Isso é por demais ridículo! O ser humano está se submetendo ao mesmo nível que os cães, deixando-se comandar pela mídia, e a seu comando, senta, levanta, anda e para. Não é raro ouvir-se frases como esta:
“Hoje em dia todo mundo se utiliza de chats de relacionamento, então porque eu também não o faço”?

“Todo mundo usa esse tipo de roupa, então porque eu também não posso usá-las?”

Quem tem filhos adolescentes está cansado de ouvir esta frase:

“Mas, mãe/pai, todo mundo usa, porque eu também não posso?”

(e não adianta perder seu tempo explicando o mau gosto de quem inventou a tal coisa que “todo mundo usa”, pois só o fato de estar aprovado pela mídia, já se cria no sujeito uma dependência daquilo.)

Porém, para quem ama a autenticidade isso lhe cai como um soco no estômago e a pergunta inverte-se: “Porque eu tenho que usar isso só porque todo mundo usa?” Esta é a frase mais coerente a um ser pensante, já que, é claro que gosto é algo muito individual, podendo ou não condizer com o do outro. Isso é tão natural, porque não aceitamos? Assim como nossas digitais não são idênticas, ou nossos corpos não são iguais ao de todo mundo, ou nossos cabelos, que podem ser mais crespos ou mais macios, grossos ou de fios finos, o que há de tão errado em nossa linha de pensamento e tendências serem discrepantes a de alguém?

Por que sermos todos iguais, se o próprio Deus nos deu o livre-arbítrio? É obvio que a própria palavra presume que o homem deve fazer escolhas, então, por que não podemos escolher como agirmos, pensarmos, falarmos ou nos vestirmos sem sermos apedrejados por causa de nossas escolhas pessoais?

Claro que em tudo deve haver moderação e ponderação, e não quero dar a impressão que liberdade casa-se com libertinagem. Mas, o que quero dizer é que dentro do bom senso deve haver democracia. O que não está certo é que os homens permitam-se viver sob o regime opressor da mídia, dizendo crer no que duvidam ou saber o que nem ao menos conhecem. Personalidade e autenticidade são duas palavras que poucos conhecem no século 21.

As pessoas têm vergonha de não possuírem, e querem a todo custo que os outros lhe vejam como importantes, não percebendo que o preconceito inicia-se consigo mesmas.

Os maiores reformadores e revolucionários da história foram homens com personalidade. Pessoas sem personalidade são escravas do meio onde vivem. São como mendigos que sobrevivem do sobejo dos outros, enquanto que, os de personalidade são livres, podendo construir sua própria visão da vida, sabendo respeitar as diferenças, sem, no entanto, serem indiferentes as suas próprias convicções.

Ter personalidade nada tem a ver com ser ignorante. O sábio está sempre aberto a aprender e aprimorar seus conhecimentos. Todavia, repudiar suas opiniões por motivo de se ver engrenado em um meio, é no mínimo, pobreza de mente.

O mundo está tão desgraçadamente cheio de hipocrisia que algumas verdades foram distorcidas, já que ninguém quer se dar ao trabalho de enfrentar questionamentos e refutações. As pessoas cumprimentam as outras mesmo não se dando bem com elas, e até deixa-lhes escapar um sorriso, porque é mais fácil dizer “oi” e sorrir, do que jogar limpo e esclarecer o que lhe incomoda, e assim, vestem a máscara da “simpatia”, quando, na verdade, por baixo dela está a “falsidade”. Simpatia e falsidade até se confundem, quando alguém “monta-se” para atuar no palco da vida.
Outros, perguntam-lhe sobre sua vida, mascarados de “preocupação”, quando, sob ela existe “maldade”, e por causa dessas constantes atuações pelas quais somos obrigados até mesmo a participar, não conseguimos confiar em ninguém, afinal, como saberemos, se alguém não está apenas atuando?

Seria muita ingenuidade minha querer dar a entender que mudaremos o mundo expondo o nosso inconformismo ou até mesmo desafiando o sistema que nos rege, mas, por outro lado, é muito verdadeira a afirmativa de que quando não aceitamos alguma coisa a nossa volta, o mínimo que podemos fazer é mudar a nós mesmos, desviando-nos de fazer parte do erro, pois cada um que assim fizer estará ao longo do tempo recrutando um grande exército que, um dia, mudará, senão todo o mundo, mas uma parte dele.

Está aí como exemplo a democracia que aos poucos vai vencendo a ditadura; as igrejas aceitando sua condição de seres humanos resgatados, livrando da prepotência de olharem-se como resgatados dos seres humanos (porque muitos se acham semideuses); a libertação da escravatura também não se deu tão de repente e na verdade ainda está em processo, visto que existe muito preconceito racial; enfim...

O que quero dizer, em resumo, é:

Se não concordamos, se não aceitamos, se nos incomoda, não esperemos as pessoas decidirem mudar, façamos nós a diferença, lembrando-nos do adágio: “é de grão em grão que a galinha enche o papo”, ou seja, “a soma de cada individuo é que forma a multidão”.

E eu te garanto que nenhum de nós está puxando a fila, o inconformismo é coisa muito antiga, tanto quanto as pessoas decididas a mudar o curso da historia, portanto, anime-se, somos apenas mais um.

Leila Castanha

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Contemplando a Graça.

Contemplando a Graça.

A vida por vezes nos faz vivenciar momentos difíceis. Sobre esses momentos – lamentamos, choramos, reclamamos. Ou seja, acentuamos com muita ênfase os desencontros criados por esses dolorosos momentos. Tornamo-nos amargos quando nos perdemos na exagerada ênfase aos desencontros existenciais vivenciados.

Somos seres de incríveis possibilidades. Vivenciando essas possibilidades, podemos tanto sofrer a dor vivenciada, vivenciar o desagravo sofrido, e reagir com palavras contra todos os desaforos lançados contra nós, como enxergar e nos aprazer com aspectos de um dom, de uma beleza, de uma benesse, de uma dádiva – somente percebido quando fechadas as influências de nossos empíricos sentidos. Quando, por momentos bloqueamos os influxos de nossas demandas e exigências carnais aos nossos sentidos – damos liberdade à ação de nossa percepção espiritual. Com isso, nossos sentidos, mesmo os físicos, alcançam uma visão, uma audição muito mais perspicaz, fazendo-nos perceber a ação da admirável, maravilhosa e dinâmica graça de Deus.

Há alguns anos venho testemunhando essa graça. Vi a ação da graça de Deus através da vida de meus familiares, amigos, companheiros de profissão, de idéias, livros, alunos, obras de arte, paisagens, as Sacras Letras, enfim nos mais variados meios.

De meus familiares - na vida de meus pais – Laerço dos Santos e Eliane Castanha, percebo, no carinho e atenção dispensados a meu favor – a sombra do maravilhoso favor Divino. Neles percebo a graça da proteção e do amparo.

De minha esposa Ana Claudia e filhos, Gabriel e Larissa, percebo a graça da presença. Em um mundo em que tantos se sentem sós, me alegro com a disponível presença de quem amo. Se precisamos de presença de alguém que amamos – a presença efetiva dos meus, me fez perceber que sou rico em graça divina.

De minha cunhada Andreza avisto sempre a graça da simplicidade – impedindo que eu perca a agradável visualização do simples.

Dos meus velhos amigos, principalmente o Sergio e a Naná Gaia – visualizei a graça no riso e na doação - em nossos momentos de alegria, ao som de boa música, e constante disposição de se associar a minha vida, e por consequência, a meus problemas.

Da companheira Marcia Araújo, comunguei com a graça do favor, da participação efetiva nos combates que seriam particulares, se a associação de minha companheira a esses entraves eliminasse deles o status de “problemas privados”.

Na vivência pedagógica passei por momentos que me deram a quase que sensação da privação da graça, pelo menos no aspecto profissional. Porém, o amigo André Luiz, com sua conduta profissional séria e comprometida, ilustrou-me a graça em forma de comprometimento, como algo de bom que pode surgir até mesmo em ambientes onde o a falência do comprometimento pessoal e a seriedade parecem já serem atestadas.

Vi a graça de Deus na troca de ambiente profissional. A graça da passagem. No atual ambiente em que trabalho, tive a honra de conviver com profissionais que de várias formas mostraram aspectos graça de Deus.

Na vida da companheira Socorro Bastos – observei a graça da força de vontade e do engajamento. Não da força rústica do braço, mas na singela força de alguém que se dispõe a colaborar com o novo – desde que esse novo seja uma contribuição pessoal, cultural ou pedagógica.

A graça de Deus se fez percebida na companhia de Maiko Leandro. Na postura ética desse novo companheiro, percebi a graça da companhia agradável e sóbria. Sua presença tem a força de constranger posturas individualistas arrogantes e antiéticas.

Vi o sorriso em sua forma plena no rosto da colega Michela Luiza, juntamente a sinceridade e comprometimento. Na Michela, contemplei a graça como um dom alegre – que nos fortalece para assumir compromissos que nem sempre nos dão algo direto em troca.

A graça, já dizia Paulo, o apóstolo, é multiforme. Com a forma de criatividade, razoabilidade e de ação – testemunhei a presença da Graça em minha recente proximidade com o companheiro Gilson Costa.

Como a palavra que alegra, a graça de Deus se fez visível nos bate-papos formais ou informais com os professores Roberto, Tiago Oliveira, Fábio e Felipe David, as professoras Cenira, Edna, Wandir, Cláudia, Ideuza, Leila e Elizângela. Grandes e interessantes troca de idéias.

Vi a graça de Deus, nas trocas de idéias com os companheiros e companheiras, professores Marcos, Leonardo, na forma de alegria, reflexão ou mesmo, descontração. O companheiro Amaury também, com seu caráter e postura foi um transmissor da graça e também a companheira Carla, que transmitiu-me a graça como forma de disponibilidade; agindo de maneira disponível e sempre sorridente.

Muitos alunos também se fizeram como demonstradores da graça de Deus. Na atenção por eles dispensada – às simples reflexões filosóficas abordadas em sala de aula, me deparei com a graça da misericórdia. Graça que possibilitou que tão pequena empresa e tão pouco saber, se fizesse valorizado por mentes sedentas de conhecimento.

Na troca de ideias física ou virtual com o companheiro personalista Daniel da Costa, vi a manifestação graciosa do Logos, que nos ajuda a manifestar agindo ou verbalizando a razão da esperança que nos move. Essa mesma manifestação percebi nos livros lidos, mesmo naqueles em que a concordância não foi alcançada. Através de leituras dissonantes, alcancei mais argumentos para construir minha pessoal imagem da vida. Dá-lhe Mounier – que foi um instrumento direto da graça de Deus para influenciar a filosofia a pensar na pessoa e através da pessoa escutar e visualizar aquEle que está além dela e as coisas que estão ao seu derredor. Emmanuel Mounier surgiu em minha vida como a graça do despertamento pessoal e da exortação a vivência da palavra que se professa. Embora ainda esteja distante da efetividade dessa vivência – essa graça em forma de exortação, me constrange da minha atual condição de ser - quem fala sem Ser, ou seja, sem viver a palavra falada. A graça exortativa me incomoda sem deixar de me consolar – pois aquele que havia dito, o bem que quero fazer esse eu não faço, mas o mal que não quero fazer esse eu faço, teve como uma de suas últimas asserções: combati o bom combate, acabei minha carreira e guardei a minha fé. Com essas revelações, as Escrituras além da graça da palavra revelada, se revela a mim como a graça das possibilidades – inclusive a possibilidade de vencer o atual estado de impotência - de não conseguir fazer o bem que deseja, para a efetividade da ação benévola.

Contemplei também a graça como manifestação das possibilidades de superação e da liberalidade, nos trabalhos do companheiro de ideias Paulo Cesar Antunes em prol da Teologia Arminiana no Brasil -, que com o site Arminianismo.com - http://arminianismo.com/ – tirou o arminianismo, pelo menos na internet, do ostracismo, e através de seu gratuito esforço, tem ajudado a apresentar com propriedade essa linha teológica tão detratada e mal compreendida. No esforço do também companheiro Douglas, a graça se apresentou como estímulo, fazendo-me perceber, que acima de qualquer engenho humano que visa bloquear uma ideia ou ação – a graça de Deus dá-nos a liberdade de pensar e força para agir mesmo em meio à falta de recursos. Antes do esforço do companheiro Paulo César quase nada se conhecia sobre o arminianismo no Brasil. Agora, se associando a seus esforços, o amigo Douglas G. Martins nos oferece em seu site, Sociedade Arminiana em Língua Portuguesa, no endereço http://arminianos.wordpress.com/ interessantes textos de cunho arminiano/wesleyano – ajudando a transformar em fartura o que era no Brasil escasso, a saber a Teologia Arminiana. Portanto, na doação desses dois companheiros de idéias – vejo a graça de Deus como presenteadora e facilitadora, oferecendo-me recursos intelectuais em prol do alcance de mais conhecimento, mesmo em um ambiente quase que árido para a realização da minha busca por esses citados recursos intelectuais – de caráter teológico arminiano/wesleyano.

As paisagens... As paisagens naturais não carecem de interpretação, observando-as podemos nelas nos alegrar. A beleza por si só transmite-nos alegria e prazer. Na alegria e no prazer transmitido pelas paisagens naturais, vivencio a graça da criação divina. E viu Deus que Era Bom... De minha parte, nas paisagens naturais, vejo a graça em forma de excelência e perfeição.

Nas paisagens artificiais e nas diversas manifestações artísticas, contemplo o homem criativo, imagem e semelhança de Deus. No privilégio de ser imagem e semelhança do Altíssimo, vejo a graça da doação e da proximidade entre Deus e os homens, vista de maneira mais plena como graça do amor, que por tamanha proximidade, teve por seus os nossos problemas, tomando para si o que seria o nosso calvário.

É muita graça.

Senhor, a sua graça me basta.
Obrigado por percebê-la.
Peço, que nos momentos em que não conseguir visualizá-la
Ela, da mesma maneira, multiforme
Se faça visível a minha anuviada percepção.

Amém.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Intelectual por excelência.

Intelectual por excelência.

“Porque não basta compreender, é preciso fazer. O nosso fim, o fim último, não é desenvolver em nós ou em torno de nós o máximo de consciência, o máximo de sinceridade, mas assumir o máximo de responsabilidade e transformar o máximo de realidade à luz das verdades que tivermos reconhecido."(Emmanuel Mounier)

Quando falamos em intelectual, logo, surge-nos ideias como: pessoa com um vasto conhecimento; pessoa com muita cultura. Acrescida a essas ideias, vem-no a mente, de maneira implícita, que intelectuais são pessoas diferentes, reservadas, participantes de círculos acadêmicos ou intelectuais, que se distanciam das pessoas simples ou de ambientes não cultos.
Muito diferente dos conceitos que nutrimos sobre intelectual, idealizado como homem ou mulher de discursos e de gabinete, os filósofos franceses Jean-Paul Sartre e Emmanuel Mounier, em suas convicções e posturas se não eliminam esse equívoco, ajudam a desfazê-lo.
Sartre entendia que o papel do intelectual era o de ser porta voz da sociedade em que estava inserido. Segundo eles, intelectual, por definição, deve ser um sujeito que reflete sobre o seu mundo, sobre o seu tempo e os acontecimentos. Porém sua reflexão, longe de mantê-lo inativo, deve levá-lo à engajamentos de caráter humanitário. Sartre inclusive chega a distinguir a figura do cientista da figura do intelectual – apresentando os pesquisadores que não tem como finalidade última de sua pesquisa, conquistas humanitárias - como cientistas, ao passo que apresenta os pesquisadores engajados em prol da civilização humana, como intelectuais (1).
Emmanuel Mounier, com o seu personalismo, defendia que qualquer atividade intelectual deve ser uma atividade em prol da pessoa humana, com isso, implicitamente admite que o intelectual não deve ficar preso a espaços de ideias, com seu conhecimento deve agir em favor da sociedade humana.(2). Mounier denuncia os acadêmicos, por ele chamados de colecionadores de erudição, como meros pedantes que se aprazem com as apresentações de teses, independentemente da relevância humana ou social.
O Brasil conta com um grande intelectual -, intelectual como defendido por Sartre e Emmanuel Mounier, ou seja, um conhecedor e pesquisador engajado. Trata-se do Dr. Miguel Nicolelis.
Considerado o maior cientista brasileiro da atualidade, e um dos maiores cientistas do mundo, o neurocirurgião, Dr. Miguel Nicolelis visa introduzir educação científica em uma das regiões mais pobres do Brasil, com o intento de provar que a educação científica, além de promover desenvolvimento científico, promove desenvolvimento social. Escolheu sertão do Cariri, no estado do Rio Grande do Norte para dar provas a sua convicção. Usando a rispidez do espaço geográfico como figura das dificuldades existenciais e sociais, Nicolelis, no uso dessa figura emblemática, pretende mostrar a possibilidade da florescência de sementes culturais, intelectuais e socioeconômicas, mesmo em lugares onde a miséria social e as dificuldades geográficas impõem marcas de hostilidades. Além disso, investindo no sertão, está a contribuir pela descentralização do conhecimento e produção científica no Brasil, com uma região que não conta com investimentos - oferecendo oportunidades a partir da educação para as crianças da região.
Pensar na sociedade, pensar nos pobres, pensar no desenvolvimento humano deve ser a busca de qualquer pesquisador, de qualquer cientista. Torna-se um intelectual, o pesquisador que exerce o seu intelecto, a partir de seu campo de pesquisa, em favor de avanços que beneficiem a comunidade humana, e, que ajude a eliminar as desigualdades sociais, a falta de acesso educação, saúde, cultura, emprego, tecnologias e por fim último, a pobreza, além de incitar outras pessoas a seguirem o mesmo objetivo.
O Dr. Miguel Nicolelis com suas ideias, associadas a práticas efetivas deve ser colocado como exemplo para um novo perfil de pesquisador – o pesquisador engajado – em prol de pessoas. Na vivência de suas convicções criou no Nordeste Brasileiro:
Instituto de pesquisa; centro de iniciação científica para jovens alunos da rede pública, instituto de saúde para a mulher (para as mães de seus alunos) -, além de importar cientistas brasileiros residentes no exterior inaugurando o campus do cérebro.
Devemos valorizar figuras como o Dr. Miguel Nicolelis que fazem uso de seu intelecto em prol de avanços humanitários - divulgando suas posturas e práticas. Pessoas como Nicolelis têm qualidades para influenciar novos pesquisadores a também se engajarem a favor de avanços humanitários. Se a academia incita seus pesquisadores a buscar conhecimento para contribuir com a sociedade humana, consequentemente avançaremos em qualidade de vida.
Já era tempo de a era dos pesquisadores pedantes – pseudo-intelectuais ruir. Já é tempo de surgir um novo momento cultural, em que conhecimento também esteja associado a compromisso comunitário e humano, e inaugurado esse nesse novo tempo, no Brasil, Dr. Miguel Nicolelis pode ser, com todos os méritos, patrono.

Lailson Castanha

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(1) SARTRE, Jean-Paul. Em defesa dos intelectuais. São Paulo: Ed Ática, 1994.
(2) MOUNIER, Emmanuel. Manifesto ao serviço do personalismo. Lisboa: Livraria Moraes Editora, 1967.

Conheça um pouco mais o Dr. Miguel Nicolelis e seus projetos no Nordeste Brasileiro.
IINN – ELS
http://natalneuro.org.br/
Vídeo:
Mayara e Mariana
http://tvcultura.com.br/janelabrasil?sid=150
Vídeo:
Revista Galileu: Miguel Nicolelis, a mente brilhante da ciência brasileira
http://www.youtube.com/watch?v=rMS1oQLV25Q

Foto: Dr. Miguel Nicolelis