segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

VIVENDO SEM MÁSCARA

VIVENDO SEM MÁSCARA

Há quem diga que viver é uma arte, talvez por isso é que muitas pessoas vivam representando como se o mundo fosse um enorme palco.

A humanidade vive em sociedade como se todos os dias fossem á um baile da fantasia. Quando nos preparamos para ir trabalhar, estudar ou fazer qualquer outra atividade social, levamos conosco uma máscara que usamos assim que colocamos nossos pés fora da privacidade do nosso lar.

Assim, completamente “montados” saímos para dar o nosso showzinho particular dividindo o palco da vida com centenas de outros atores, que igualmente, tentam desempenhar seu papel com a maior naturalidade possível. E claro, como todos trabalham nessa peça, temos que manter a sincronia de forma a nos sentirmos forçados a nos “adaptar” ao meio onde atuamos, digo, vivemos. Nos “adaptamos”, nos “acomodamos”, nos “ajustamos”, nos “harmonizamos”, ou seja, nos “conformamos”, afinal todos esses verbos são sinônimos. E se não conseguirmos pô-los em pratica, somos enxotados e outro é escolhido em nosso lugar. Essa é a realidade, quanto mais soubermos fingir, mais teremos sucesso para viver no meio social.

Quando chegamos em casa depois de um dia exaustivo de trabalho, despimos nossas roupas que usamos para labutar juntamente com nossa máscara, tomamos uma deliciosa ducha e de cara limpa colocamos aquela roupinha leve e casual e, então, nos encontramos com nosso verdadeiro “eu”.

Como seria bom se pudéssemos ser nós mesmos onde quer que fossemos! Se as pessoas parassem de mentir sobre si mesmas e se dessem a chance de aprender com os outros, enquanto que, os outros aprendessem consigo. Se as pessoas proferissem mais a frase “não sei” ao invés de usarem máscaras de intelectuais de quinta categoria (Sim, de quinta, porque a verdadeira sabedoria inclina o homem a aprender, pois ela mesma nos revela que ninguém nasce sabendo). Oxalá as pessoas chorassem quando estão tristes ao invés de esconderem suas mágoas sob a máscara da satisfação, quando sob ela está um olho inchado, e debaixo das indumentárias de personagem teatral existe um coração despedaçado. Por que usar máscara quando é tão melhor conhecermos as diferenças reais do que lidarmos com a falsidade conjunta? Quando é tão mais fácil ser nós mesmos a viver imitando comportamentos que muitas vezes nem louvamos?

Até na igreja existe máscaras. Os pastores se fantasiam de homens sérios, literalmente falando, trancam a carranca e procuram manter uma postura de autoridade, no entanto, é só vê-los em suas casas para descobrir que muitos deles sabem sorrir, alguns até gostam de brincar e podem relaxar em frente a uma tevê, de tal forma que alguns que lhe são subalternos pegam-se tentados a pensar:

“Meu pastor é bipolar, porque ele é tão diferente na igreja!”

Pasmem, mas eles também usam máscaras. A preferida da maioria é a da “santidade”, todavia, basta chegarem em casa para tirarem-na e relaxarem vestindo a “roupa leve” da humanidade, como se ambas as coisas não pudessem conviver perfeitamente. É que, como em sua casa todos o conhecem muito bem, seria mais difícil atuarem, e por isso, a igreja, que é figurada em toda a bíblia como uma família, não conhece realmente seus irmãos e muito menos seus pastores, além da máscara que eles usam. Graças a Deus alguns ministros do evangelho já acordaram para entender que santidade é a “separação do mundo” e não “no mundo” e com esse entendimento permitem-se serem conhecidos pelo rebanho, como pessoas comuns que foram resgatados para viverem em comunhão uns com os outros.

Sim, a vida é uma arte e o grande problema é que os homens tais como artistas estão aos poucos abrindo mão de sua autenticidade e vivem copiando as inspirações alheias. Que graça há em qualquer obra de arte se o artista se satisfaz a copiar ao invés de criar e acrescentar beleza ao que já existe? Exatamente assim é como vivem muitas pessoas que nos rodeiam: imitam os comportamentos ditados pela sociedade sem acrescentar-lhe nada e sem ao menos se darem a dignidade de julgá-los.

Penso que Deus fez o homem para acrescentar ao próximo, e não vejo como isso pode ser feito se o mundo não passa de uma grande copiadora, transformando cada ser humano em cópias xerocadas um do outro. Deus nos fez a cada um, seres únicos, dotando-nos individualmente de capacidades impares para que somadas aos de nosso próximo pudéssemos engrandecer o mundo. Não vejo lógica alguma em termos de viver como quem precisa decorar um texto para atuar em cada lugar que formos: devemos agir e até pensar segundo o nosso meio ou nos sentiremos isolados.

O ser humano é tão complexo que, embora tenha a tendência de querer ser o centro do universo e cada qual deseja que o outro emolde-se nele, pensando como ele pensa, agindo segundo o seu padrão de comportamento, abraçando ideias que não firam suas crenças, notamos que o homem é uma das criaturas, senão, a criatura mais hipócrita existente, uma vez que, embora queira ser a matriz de milhares de clones, ele mesmo se submete, em nome da mídia e do sistema sob o qual vive, a deixar-se transformar em simples cópia humana, vivendo sob a regência daquela e imitando as tendências que ela dita. Isso é por demais ridículo! O ser humano está se submetendo ao mesmo nível que os cães, deixando-se comandar pela mídia, e a seu comando, senta, levanta, anda e para. Não é raro ouvir-se frases como esta:
“Hoje em dia todo mundo se utiliza de chats de relacionamento, então porque eu também não o faço”?

“Todo mundo usa esse tipo de roupa, então porque eu também não posso usá-las?”

Quem tem filhos adolescentes está cansado de ouvir esta frase:

“Mas, mãe/pai, todo mundo usa, porque eu também não posso?”

(e não adianta perder seu tempo explicando o mau gosto de quem inventou a tal coisa que “todo mundo usa”, pois só o fato de estar aprovado pela mídia, já se cria no sujeito uma dependência daquilo.)

Porém, para quem ama a autenticidade isso lhe cai como um soco no estômago e a pergunta inverte-se: “Porque eu tenho que usar isso só porque todo mundo usa?” Esta é a frase mais coerente a um ser pensante, já que, é claro que gosto é algo muito individual, podendo ou não condizer com o do outro. Isso é tão natural, porque não aceitamos? Assim como nossas digitais não são idênticas, ou nossos corpos não são iguais ao de todo mundo, ou nossos cabelos, que podem ser mais crespos ou mais macios, grossos ou de fios finos, o que há de tão errado em nossa linha de pensamento e tendências serem discrepantes a de alguém?

Por que sermos todos iguais, se o próprio Deus nos deu o livre-arbítrio? É obvio que a própria palavra presume que o homem deve fazer escolhas, então, por que não podemos escolher como agirmos, pensarmos, falarmos ou nos vestirmos sem sermos apedrejados por causa de nossas escolhas pessoais?

Claro que em tudo deve haver moderação e ponderação, e não quero dar a impressão que liberdade casa-se com libertinagem. Mas, o que quero dizer é que dentro do bom senso deve haver democracia. O que não está certo é que os homens permitam-se viver sob o regime opressor da mídia, dizendo crer no que duvidam ou saber o que nem ao menos conhecem. Personalidade e autenticidade são duas palavras que poucos conhecem no século 21.

As pessoas têm vergonha de não possuírem, e querem a todo custo que os outros lhe vejam como importantes, não percebendo que o preconceito inicia-se consigo mesmas.

Os maiores reformadores e revolucionários da história foram homens com personalidade. Pessoas sem personalidade são escravas do meio onde vivem. São como mendigos que sobrevivem do sobejo dos outros, enquanto que, os de personalidade são livres, podendo construir sua própria visão da vida, sabendo respeitar as diferenças, sem, no entanto, serem indiferentes as suas próprias convicções.

Ter personalidade nada tem a ver com ser ignorante. O sábio está sempre aberto a aprender e aprimorar seus conhecimentos. Todavia, repudiar suas opiniões por motivo de se ver engrenado em um meio, é no mínimo, pobreza de mente.

O mundo está tão desgraçadamente cheio de hipocrisia que algumas verdades foram distorcidas, já que ninguém quer se dar ao trabalho de enfrentar questionamentos e refutações. As pessoas cumprimentam as outras mesmo não se dando bem com elas, e até deixa-lhes escapar um sorriso, porque é mais fácil dizer “oi” e sorrir, do que jogar limpo e esclarecer o que lhe incomoda, e assim, vestem a máscara da “simpatia”, quando, na verdade, por baixo dela está a “falsidade”. Simpatia e falsidade até se confundem, quando alguém “monta-se” para atuar no palco da vida.
Outros, perguntam-lhe sobre sua vida, mascarados de “preocupação”, quando, sob ela existe “maldade”, e por causa dessas constantes atuações pelas quais somos obrigados até mesmo a participar, não conseguimos confiar em ninguém, afinal, como saberemos, se alguém não está apenas atuando?

Seria muita ingenuidade minha querer dar a entender que mudaremos o mundo expondo o nosso inconformismo ou até mesmo desafiando o sistema que nos rege, mas, por outro lado, é muito verdadeira a afirmativa de que quando não aceitamos alguma coisa a nossa volta, o mínimo que podemos fazer é mudar a nós mesmos, desviando-nos de fazer parte do erro, pois cada um que assim fizer estará ao longo do tempo recrutando um grande exército que, um dia, mudará, senão todo o mundo, mas uma parte dele.

Está aí como exemplo a democracia que aos poucos vai vencendo a ditadura; as igrejas aceitando sua condição de seres humanos resgatados, livrando da prepotência de olharem-se como resgatados dos seres humanos (porque muitos se acham semideuses); a libertação da escravatura também não se deu tão de repente e na verdade ainda está em processo, visto que existe muito preconceito racial; enfim...

O que quero dizer, em resumo, é:

Se não concordamos, se não aceitamos, se nos incomoda, não esperemos as pessoas decidirem mudar, façamos nós a diferença, lembrando-nos do adágio: “é de grão em grão que a galinha enche o papo”, ou seja, “a soma de cada individuo é que forma a multidão”.

E eu te garanto que nenhum de nós está puxando a fila, o inconformismo é coisa muito antiga, tanto quanto as pessoas decididas a mudar o curso da historia, portanto, anime-se, somos apenas mais um.

Leila Castanha

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