quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Que é o homem?

Saber que é o homem é um dos mais intrigantes desejo do próprio homem. Desde a antiguidade mais remota, pelo que se tem documentado, esta busca tem motivado e inquietado o ser humano.
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Que é o homem? - Mesmo tendo vários pensadores se desgastando na empresa de responder esta indagação, ela, ainda assim não se cala, continua ecoando.
Na maior parte de nossas vidas, numa atitude de demissão intelectual, fugimos dessa indagação nos distraindo com as atividades triviais, ou nos contentando com respostas prontas e plasticamente bem elaboradas. Se formos honestos, reconheceremos que as respostas, por mais pretensiosas que sejam, em sua maioria (ou em sua totalidade) não saciam a necessidade de resposta gerada por esta indagação.
Ignoramos não só o que somos, pouco sabemos do que “não somos”; até na discussão teológica, não há um consenso sobre a natureza do homem – se este é mal, ou não, se num todo é depravado, se não, se temos livre-arbítrio ou não. Conjecturamos, refletimos, mas não temos como asseverar com propriedade a totalidade de nossa natureza, ou a totalidade de nossas impossibilidades. Apesar das indefinições, temos caminhos interessantes para nos levar, a, pelos menos uma ideia de nossa origem.
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Tenho por principio, o costume de não descartar as fontes antigas como fontes de informações, fontes que, mesmo em sua rusticidade, estando mais distantes da multiplicidade de opiniões, parece-me tratar com mais qualidade as propriedades constituintes do homem. São rústicas, e sendo mais antigas, estiveram mais próximas do advento da civilização, também são mais simples, não sendo formatadas por emaranhados conjecturais.
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Uma destas fontes são as Sagradas Escrituras. Nela temos como informação que o homem é um ser criado a imagem e semelhança de Deus. Seguindo a razão bíblica o filósofo protestante, Francis Schaeffer em seu livro “A verdadeira espiritualidade” afirma: "Eu sou, eu existo; mas existo especificamente como um ser racional e moral". Continuando o seu argumento, Schaeffer nos situa entre Deus e a natureza – abaixo de Deus, por sermos finitos, próximos a ele, por sermos racionais e morais – acima da natureza por sermos racionais e morais, e próximos a ela por sermos finitos.(1)
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Na definição personalista de Emmanuel Mounier o homem é um ser situado em seu contexto histórico, é um ser pessoal. Definindo assim ele quase que desfaz a intenção do homem de se entender fora de seu quadro espacial-temporal, vejamos o que ele afirma:
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“Eu não sou um leve e soberano cogito no céu das idéias, mas este ser pesado cujo o peso só será dado por uma expressão pesada; eu sou um eu-aqui-agora; seria preciso sobrecarregar ainda mais e dizer um eu-aqui-agora-assim-entre estes homens com este passado”.(2)
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Pelas infinitas possibilidades de definição, faz-se quase que impossível a tarefa de definir o homem, por mais que ansiamos. Essa realidade, a ânsia de se conhecer, foi o que incitou o homem a descer um pouco das alturas das definições ontológicas, e buscar definições fenomenológicas e antropológicas, a partir dos fenômenos perceptíveis, de sua história e de suas marcas deixadas ao longo do tempo. Mas, seguindo as características sobre o homem, descritas pelo filósofo norte-americano, por ter, mesmo que fragmentada, uma relação com o eterno, pois tem como atributos, a moral e a razão, ele, não poderá ser definido apenas fenomenologicamente e nem só antropologicamente, pois essas disciplinas científicas, só podem descrever e observar apenas os traços e a manifestação de seus atributos, mas o porquê o homem os têm, intrinsecamente como “partes de sua constituição humana” -, jamais essas ciências darão uma resposta definitiva.
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Tentando responder a mesma indagação, Albert Camus conclui que somos seres do absurdo, ou seja, não existe uma resposta para a nossa humanidade – tudo é um absurdo, inclusive a existência humana. Observando atentamente as nossas características gerais, mesmo negando a ideia de Camus da absurdidade, por outro lado, não podemos afirmar de forma plena o que realmente somos.
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Voltando as Escrituras, admitindo que somos criados, podemos entender porque não nos conhecemos plenamente – é o oleiro que conhece o vaso. Nós os seres criados, por assim sermos, temos um limite de conhecimento, nossa visão não é nem panorâmica e nem extensiva, e muito menos intimista, só sabemos olhar para frente. Este limite, nos impede-nos de conhecermo-nos de forma aprofundada, por isso precisamos do outro para entender um pouco mais de nós mesmos, ainda assim, de forma imprópria, pois o outro também é marcado pelos mesmos limites existenciais.
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Que é o homem? – Na insistência da indagação, respondo ainda que vagamente, que o homem é um ser relacionável – com o próximo e com o seu criador. Está preso neste sistema porque necessita desta relação. Precisa de Deus, para satisfazer suas ânsias mais profundas, como o próprio conhecimento de si próprio, e de seu próximo para compartilhar sua vida – a existência do homem não teria sentido sem a presença de alguém que o entendesse.
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Outro aspecto do homem, é que ele é um ser vocacionado a transformar:
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A si mesmo
A natureza
E o seu próximo
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A si mesmo, porque ele não nasce definido, é constrangido a fazer escolhas, a praticar o seu livre arbítrio. Na definição de Locke, o homem é uma folha em branco. Se buscarmos na sabedoria bíblica, desde os primórdios, o homem, representado na figura de Adão, é incitado a praticar escolhas, são elas que transformarão o próprio homem e a natureza que o envolve.
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A natureza se oferece, e o homem a adequa as suas necessidades. É o homem que define a finalidade da natureza para si.
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O próximo também é por nós diariamente transformado já que a própria condição de ser relacional é uma relação influxionista, ou seja, uma relação de influência, e através da influência, não apenas somos transformados, também, transformamos.
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O homem é um ser de relação. e muito mais.
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Lailson Castanha
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Gravura: Homem Vitruviano de Leonardo daVince
(1) SCHAEFFER, Francis A. Verdadeira Espiritualidade. 3.ed.São Paulo: Fiel, 1989.
(2) MOUNIER, Emmanuel. O compromisso da fé. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1971.

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