Acho que o tempo nos vai dando outro olhar sobre a vida e que isso poderá modificar os modelos com que lidamos. É possível que estejamos perante uma mudança de civilização caracterizada pela passagem das sociedades de poder para as sociedades de diálogo e de afecto.
Eu tenho consciência de que o mundo em que nasci não era assim. Nasci numa sociedade de poder. As pessoas aceitavam naturalmente que o poder era o instrumento de gerir o mundo e era muito restrito o papel do diálogo nos nossos costumes e na nossa maneira de olhar.
Mesmo na família. O que caracterizava a relação pais e filhos era a autoridade. Vivi essa experiência: o meu pai, que era uma pessoa afectuosa, tinha com os filhos uma atitude autoritária que marcou as nossas vidas.
Felizmente que a sua relação com a filha mais nova lhe abriu a vida para outro olhar. Ele estava a ser vítima da atitude cultural que marcava aquela época e não havia outra maneira que não fosse essa para regular as relações humanas.
Mas não era só a família: as próprias sociedades estavam marcadas pelo uso do poder e isso era uma prioridade nas nossas vidas. Na Europa de então, a maioria aceitava a prioridade do poder na organização da sociedade: Hitler, Mussolini, Estaline e tantos outros exerciam o uso do poder como forma de gerir o mundo e uma boa parte da sociedade aceitava isso sem consciência do absurdo que significava. Não tenham dúvidas: foi no meu tempo e através de outro absurdo – a guerra mundial – que ficou mais ou menos esclarecida essa questão. Hoje, pelo menos na Europa, é difícil admitir que as sociedades possam sobreviver através de um ditador.
Mas temos de estar atentos: a própria democracia está revelando as suas fraquezas e isso obriga-nos a ter a percepção de que o futuro não se resolve com a indiferença mas com a consciência permanente de que a reflexão sobre as relações humanas é uma realidade que nos acompanha e que não podemos dar como resolvida.
Esta atitude perante a vida é a única que nos deixa aproximar da realidade que é fundamentalmente uma complexidade. É também o tempo que nos vai revelando que a natureza humana não é simples e que não podemos progredir se não nos aproximarmos da realidade com a consciência de que o futuro será feito com o respeito dessa complexidade que nos condiciona.
Eu sou um optimista, sobretudo quando falo com pessimistas. Tenho dias em que olho para o futuro com esperança, que consiste exactamente neste abandono das sociedades de poder. Mas não vai ser simples.
Às vezes penso que a entrada da mulher na história poderia resolver essa situação, mas não consigo também deixar de pensar que a mulher, à medida que se aproxima e usa as formas de poder, também se “masculiniza” e com isso cai no fascínio do poder.
Olho para o futuro com a consciência da complexidade da natureza humana e, por isso, da dificuldade de termos presente que nada, nem a política, nem a economia, nem o poder, mas só o diálogo e o afecto poderão dar-nos outras perspectivas.
António Alçada Baptista: advogado e romancista português. Nasceu em Covilhã, 29 de Janeiro de 1927 e faleceu em Lisboa, 7 de dezembro de 2008.
Apesar de ser licenciado em direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, António Alçada Baptista se empenhou mais nas atividades literárias de que aao exercício da advocacia.
Alçada Baptista foi diretor foi director da Editora Moraes entre os anos 1957 e 1972, editora que imprimiu várias obras do filósofo personalista, Emmanuel Mounier, para a língua portuguesa, e um dos fundadores da da revista de orientação personalista O Tempo e o Modo. Gerenciou o jornal O Dia (1975) e foi presidente do Instituto Português do Livro (1979-1985).
Era profundamente dedicado a cultura língua portuguesa, dedicação essa, que lhe incitou à viagens à países de língua portuguesa.
Apesar de ser licenciado em direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, António Alçada Baptista se empenhou mais nas atividades literárias de que aao exercício da advocacia.
Alçada Baptista foi diretor foi director da Editora Moraes entre os anos 1957 e 1972, editora que imprimiu várias obras do filósofo personalista, Emmanuel Mounier, para a língua portuguesa, e um dos fundadores da da revista de orientação personalista O Tempo e o Modo. Gerenciou o jornal O Dia (1975) e foi presidente do Instituto Português do Livro (1979-1985).
Era profundamente dedicado a cultura língua portuguesa, dedicação essa, que lhe incitou à viagens à países de língua portuguesa.
Em literatura, investiu em ensaios, crónicas, romances e ficção, sempre usando sua pessoalidade nas áreas em que explorava, principalmente, destacando as questões interiores e os problemas comuns, culturais, sociais e religiosos que envolvem o ser humano.
Suas obras:
Documentos Políticos (crónicas e ensaios) - (1970)
Peregrinação Interior I - Reflexões sobre Deus - (1971)
O Tempo das Palavras (1973)
Conversas com Marcello Caetano - (1973)
Peregrinação Interior II - O Anjo da Esperança - (1982)
Os Nós e os Laços (romance) - (1985)
Catarina ou a Sabor da Maçã - (1988)
Tia Suzana, Meu Amor (romance) - (1989)
O Riso de Deus (romance)- (1994)
A Pesca À Linha, Algumas Memórias - (1998)
A Cor dos Dias - (2003)
Documentos Políticos (crónicas e ensaios) - (1970)
Peregrinação Interior I - Reflexões sobre Deus - (1971)
O Tempo das Palavras (1973)
Conversas com Marcello Caetano - (1973)
Peregrinação Interior II - O Anjo da Esperança - (1982)
Os Nós e os Laços (romance) - (1985)
Catarina ou a Sabor da Maçã - (1988)
Tia Suzana, Meu Amor (romance) - (1989)
O Riso de Deus (romance)- (1994)
A Pesca À Linha, Algumas Memórias - (1998)
A Cor dos Dias - (2003)
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Fonte: http://www.antonioalcadabaptista.org/aobra.html
Fonte: http://www.antonioalcadabaptista.org/aobra.html
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