Peco contra a pessoa, todas as vezes que forço um homem vivo a se identificar com umas de suas funções, ou que me comporto com ele, como se de fato a ela se reduzisse. Quando penso, por exemplo, que existem homens ou mulheres que são “feitos para” talhar todos os dias que Deus anima, a mesma peça de ferro. Quando reduzo a mulher a sua função doméstica ou a sua função erótica, ou mesmo a sua mais alta função, a sua função materna, sem me colocar a questão da vocação espiritual que lhe cabe e lhe convém, através e acima de tantos cuidados e seduções. Quando considero meus operários como um elemento do meu equipamento e a fragilidade de seus corpos, seus encargos familiares não aparecem mais do que como um setor de desperdício. Quando, proposto pelo acaso a êsses camponeses perto de quem passo as férias, a esses soldados a quem acantono, porque eles tem entre si um sistema de sinais diferentes daquele que é usado em meu meio, aceito renunciar, depois de um pequeno esforço, a toda a comunicação autêntica entre mim e eles. Quando, com o meu coração íntegro, reprovo esses maus rapazes que, até ao seu último suspiro, serão habitados pela graça preveniente do Cristo. Em uma palavra, eu peco contra a pessoa, todas as vezes em que eu ajo como se desesperasse de um homem, quer porque, sem nenhum mandato, eu o excomungo das mais altas virtualidades do homem, quer porque eu o reduzo a condição de um objeto ou de um instrumento.
Emmanuel Mounier: Filósofo Francês.
Nasceu em 1905 na cidade de Grenoble e faleceu na comuna francesa de Châtenay-Malabry, no ano de 1950.
Foi o principal articulador da filosofia personalista na França, tendo como instrumento divulgador a revista Esprit, da qual, foi um dos fundadores.
Principais obras:
Revolução Personalista e comunitária(1935); Manifesto a serviço do personalismo(1936); O afrontamento cristão(1945) Introdução aos existencialismos(1946); Liberdade sob condições(1946); Tratado do caráter(1946); O que é personalismo(1948); Sombras de medo sobre o século XX (1948); A esperança dos desesperados(1953).
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MOUNIER, Emmanuel. O compromisso da fé. São Paulo:Livraria Duas Cidades, 1971. p. 41.
Foi o principal articulador da filosofia personalista na França, tendo como instrumento divulgador a revista Esprit, da qual, foi um dos fundadores.
Principais obras:
Revolução Personalista e comunitária(1935); Manifesto a serviço do personalismo(1936); O afrontamento cristão(1945) Introdução aos existencialismos(1946); Liberdade sob condições(1946); Tratado do caráter(1946); O que é personalismo(1948); Sombras de medo sobre o século XX (1948); A esperança dos desesperados(1953).
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MOUNIER, Emmanuel. O compromisso da fé. São Paulo:Livraria Duas Cidades, 1971. p. 41.
Gravura: Emmanuel Mounier
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Quando li esse artigo percebi que tenho também cometido o pecado na tendência de confundir uma pessoa com sua atividade ou com sua posição/título. Por outro lado, me corrija se necessário, penso em culto com pretensões personalistas quando toda "unção" ou todo poder de uma instituição ou o que se pode conseguir nesse ambiente (igreja) está vinculada ou concentrada em uma pessoa, o que se pode conferir até mesmo pelo uso de fotografias nas placas denominacionais. Quanto a isso, tentei me situar a partir desse texto, mas confesso ter tido dificuldade, porque penso nesse exemplo que citei como um personalismo (se é) negativo.
ResponderExcluirCompanheiro Josué, saúde.
ResponderExcluirA questão por você levantada é por demais pertinente.
Quando falamos filosoficamente de personalismo, devemos separá-lo da forma que esse termo é usada no senso comum.
O personalismo filosófico trabalhado pelo filósofo francês Emmanuel Mounier, se difere totalmente da ideia “personalismo” circulante em ambientes populares.
Personalismo como filosofia trabalha a valorização da pessoa humana. Mas por valorização da pessoa humana, não se entende hiper valorização individualista , como a por você citada e rejeitada. Num ambiente filosófico personalista, esse “personalismo” conhecido no senso comum, é tratado como um antipersonalismo, por valorizar mais as representações do que as pessoas.
Usando a palavra personalismo como terminologia do senso comum, você esta correto em afirmar que um culto em que a figura de uma pessoa é centralizada é um culto “com pretensões personalistas”. Porém, filosoficamente, a expressão não é adequada. Assim é definido a filosofia personalista por Mounier:
“chamamos personalismo toda doutrina ... que afirma o primado da pessoa humana sobre as necessidades mate-riais".
ademais, quando alguém é objetivado como um meio, seja lá para que fim, esse alguém não se coloca como uma pessoa e sim, um indivíduo. Sobre essa questão, deixo novamente Emmanuel Mounier comentar:
"A primeira preocupação do individualismo é centrar o indivíduo em si mesmo, a primeira preocupação do personalismo é descentrá-lo para estabelecê-lo nas perspectivas abertas da pessoa" (Manifesto a serviço do personalismo).
Portanto, um sistema em que alguém é colocado como um centro objetivável, com fins materialistas ou simplesmente egoístas, esse sistema é um sistema individualista, e não personalista.
Creio que entendendo a distinção entre pessoa e indivíduo sua dificuldade se dissipará.
Deixo alguns links, logo abaixo, em que me esforço para esclarecer conceitos personalista de pessoa humana; negação da pessoa e de filosofia personalista. É só copiar e colar no navegador.
http://personalismomounieriano.blogspot.com/2009/04/pessoa-humana-como-primazia.html
http://personalismomounieriano.blogspot.com/2009/02/ostentando-o-nao-ser-pessoal.html
http://personalismomounieriano.blogspot.com/2009/02/equivocos-respeito-de-emmanuel-mounier.html
Meu caro, fico muito grato por sua atenção dispensada. Seus termos foram claros para meu esclarecimento. Mesmo assim, linkarei os blogs/sites indicados.
ResponderExcluirUm abraço.